sábado, 8 de agosto de 2009

Vista parcial de Beja em 1881. Aguarela do autor.


Esta aguarela segue de perto um documento fotográfico de 1881.
No extremo esquerdo do Dormitório Novo identifica-se a Janela de Mértola ou de Soror Mariana Alcoforado, presumível autora das "Lettres Portugaises traduites en françois"; ao centro o corpo principal do Convento da Conceição, fundado pelos primeiros duques de Beja, cujo Palácio se vê logo à direita.
A fotografia original foi tomada do terraço do antigo colégio dos Jesuítas, actual quartel da GNR.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cartas checas da freira portuguesa


Uma colecção bibliográfica temática parece ter à partida um âmbito mais circunscrito do que na realidade tem. No caso do estudo das lettres portugaises traduites en françois[1] e da sua rápida projecção europeia e mundial exige-se ao investigador o conhecimento e, ou, o contributo de várias áreas das ciências sociais e humanas, nomeadamente história, estudos literários, economia e estatística. Se contabilizarmos no mundo inteiro, em mais de 30 idiomas diferentes, 600 edições das Cartas, adstritas a publicações periódicas e não periódicas, número ainda assim de certa relevância, mas insuficiente para o que seguramente anda publicado, vemos como é grande a sua fortuna crítica.
Tal celebridade não se deve somente à inovação literária e às traduções que ao longo dos séculos delas foram feitas, pois não devemos esquecer as versões poéticas e as dezenas e dezenas de ilustrações – expressas em gravura, desenho, litografia, pintura e fotografia - que as interpretaram desde o período barroco até à contemporaneidade. Complementarmente a música, a escultura, a medalhística e a esfragística, e, principalmente, os ensaios crítico-literários acerca da polémica que envolve a origem das cartas, converteram-nas ainda mais num assunto fascinante e incontornável, quando se trata de historiar e glorificar a paixão e o amor de uma mulher desiludida por um homem, assim como de estimulo na luta politica feminina pela sua emancipação[2].
O título desta crónica refere-se às cartas checas da freira portuguesa, publicações que ainda não possuíamos na nossa colecção alcoforadiana que, com perto dos 500 exemplares, integra a primeira edição de Barbin, saída a 4 de Janeiro de 1669. Há cerca de três meses, mercê duma visita a Praga, o nosso filho, José Miguel Rita Borrela, presenteou-nos com duas lindas impressões checas de Portugalské Listy: uma de 1921, sem ilustração, no formato 16º (bastante pequeno), tradução de Otto Elexhauser, editado por Arthur Novák, em Praga[3]; a outra edição, também de A. Novák, de formato maior, in 8º, data de 1916, com gravuras de T. Francisco Simon, tradução e epílogo de Hanus Jelinek. É desta segunda edição, em livro, que pretendemos mostrar a gravura da 3ª carta, assim como o começo dela em língua checa[4], por outro lado a imagem do cólofon, hoje em desuso, é um pormenor editorial, imprescindível no estudo bibliográfico, onde consta normalmente o nome dos vários intervenientes no processo de impressão do livro (autor, ilustrador, editor, impressor, compositor), tipo de papel, razão da tiragem especial ou não, neste caso é o exemplar 612 de uma tiragem especial de 730, etc..
Das edições checas sabemos que a primeira tradução, de Hanus Jelinek, saiu em 1908, na revista “Lumir”; seguiu-se a primeira edição em livro, em 1910, tradução de H. Jelinek, editora Nova de Boucek, litografias de Francisco Kysel, além das outras três edições diferentes que referimos anteriormente de 1916, 1921 e 1926. É interessante notar que algumas das edições de países do leste europeu – Rússia, Polónia, Checoslováquia e Roménia – coincidem com o período da I Grande Guerra, facto que terá alguma relação com a grande mobilidade que os períodos de guerra normalmente proporcionam. O mesmo já havia acontecido durante as invasões napoleónicas e nas guerras anteriores setecentistas e seiscentistas, em que a maior mobilidade por toda a Europa e fora dela, de gente tão diferente contribuiu para o estreitar de relações entre os povos e a transmissão de ideias novas e o conhecimento de casos exóticos. É, sem dúvida, pelo menos nos primeiros 250 anos, desde 1669, em conjunturas desta natureza, associadas ao iluminismo e romantismo, que as cartas de amor atribuídas a Mariana Alcoforado, vão sendo gradual e rapidamente conhecidas pelo mundo inteiro. Em Portugal os anos de 1915 a 1918 viram sair a lume obras de Teófilo Braga, Albino Forjaz de Sampaio, Júlio Dantas, Ruy Chianca, Manuel Ribeiro e Conde de Sabugosa, entre outros - a I República, apesar de algumas vozes contra, esteve de alma e coração com Mariana.
Deste 18 de Maio – Dia Internacional dos Museus - a 19 de Junho de 2006 terá lugar, mais uma vez, no Museu Regional de Beja, instalado nos restos do extinto mosteiro de Nª Sra. da Conceição, onde professou e viveu Soror Marianna Alcoforado (1640-1727), uma exposição sobre a religiosa portuguesa. Trata-se de uma obra artística “literalmente” tecida por Cristina de Melo, cuja urdidura pretende revelar-nos, sob o título “O segredo de Mariana”, intimidades insuspeitas e de algum modo invocadas pela criação musical do compositor Gilles Sivilotto, acompanhados, no acto inaugural, por uma palestra do poeta Nuno Júdice sobre as Cartas Portuguesas e a sua presumível autora.


Publicado por Leonel Borrela in Diário do Alentejo de 19 de Maio de 2006

[1] “Lettres portugaises traduites en françois” é o título da primeira edição realizada em Paris, por Claude Barbin, em 1669. São cinco cartas de amor, cujos originais jamais apareceram, presumivelmente de origem portuguesa, embora alguns investigadores as queiram remeter para a literatura francesa. A seu tempo daremos notícia desta quase inesgotável polémica. Há uma tendência bastante generalizada para negligenciar este título que as dá como nossas e traduzidas para francês. Normalmente sublinha-se somente Lettres Portugaises e, quando é citado o título, ignora-se, também bastantes vezes, o verbo francês traduire (traduzir) substituindo-o por écrire (escrever), além de se transcrever françois como français. Cartas Portuguesas traduzidas em francês não é, obviamente, o mesmo que Cartas Portuguesas escritas [que poderiam ter sido ou não traduzidas] em francês.
[2] BARRENO, M.I.; HORTA, M.T.; COSTA, M.V. – Novas cartas portuguesas. Lisboa: Futura, 1974. 2ª Ed. [1972]
[3] O Museu Regional tem também um destes exemplares, na sua colecção bibliográfica alcoforadiana de Godofredo Ferreira, além de uma outra edição de B.M. Klika Praza, de1926, traduzida por Hanus Jelinek e gravura de Hana Dostalova.
[4] Segundo a tradução de Manuel Ribeiro (1913, 61), o começo da Carta terceira será assim: “Que será de mim? E que queres tu que eu faça? – Quão longe me vejo de tudo quanto tinha imaginado! Contava que me escrevesses de todas as terras […]”

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Lettres Portugaises, edição polaca


Lettres Portugaises, edição polaca

As edições estrangeiras[1]das Cartas Portuguesas, nomeadamente das que se publicaram nos países do leste europeu, desde o início do século passado, demonstram ao nível iconográfico uma sensibilidade singular relativamente às suas congéneres ocidentais. Países como a Checoslováquia, Hungria, Roménia, Rússia e Polónia, trataram a ilustração do tema das cinco cartas de amor atribuídas a Mariana Alcoforado de forma sensível, carinhosa e bastante envolvente, até com algum erotismo.
Da colecção bibliográfica de Godofredo Ferreira, pertença da Assembleia Distrital de Beja, preservada no Museu Regional, constam três edições polacas de 1911, 1920 e 1921, duas checas que já referenciámos em crónica anterior, de 1921 e 1926, e duas romenas de 1967. A edição russa, de 1915, é microfilmada. São obras que revelam uma dedicação especial ao tema, algumas com grande intensidade dramática e um grande respeito pelo seu conteúdo, um pouco à maneira das gravuras seiscentistas e setecentistas que acompanhavam as primeiras edições.
Reproduz-se, nesta crónica, uma edição polaca diferente[2], de 1959, bem posterior às mencionadas anteriormente, mas do mesmo autor da tradução e do prefácio das primeiras duas, Stanislaw Przybyszewski, ilustrada por Anna Trojanowska. É um livrinho, in 8º peq., com 69 páginas, situando-se o prefácio entre as pp.5 e 20; dez ilustrações pequenas, mais estilizadas do que é habitual neste género de publicações - onde o poder descritivo da imagem parece querer por vezes substituir-se ao texto ou, então, pervertê-lo totalmente – acompanham duas a duas, cada uma das cinco cartas amorosas.
O autor inicia o prefácio divulgando o teor descabido da carta de Rousseau a d`Alembert, onde aquele “apostava tudo” em como as “lettres”foram escritas por um homem, dado que as mulheres não possuíam inteligência, nem cultura, para tal realização [é óbvio que este processo do”apostava” nada tem de científico e só serve para satirizar o seu mentor]. Cita a primeira edição de Claude Barbin, de 1669, “Lettres Portugaises traduites en françois”, e o facto de outras edições coevas desvendarem os nomes do cavaleiro de Chamilly e de Guilleragues como, respectivamente, destinatário e tradutor das cartas para francês. Faz uma breve contextualização da luta militar de Portugal pela independência de Espanha, nomeia o comandante Schomberg, Chamilly, Mariana Alcoforado, entre outros, como intervenientes nesse período seiscentista. Destaca - além da nota do abade francês Boissonade que trouxe, em 1810, para a ribalta a identidade portuguesa, bejense, de Mariana Alcoforado - as “Memórias” de Saint-Simon, coevas e a propósito de Chamilly, a quem, segundo se dizia, e ele (Saint-Simon) não desmente, as célebres cartas haviam sido escritas. Stanislaw refere ainda a edição bilingue, francesa e portuguesa, de 1824, do Morgado de Mateus, primeiro retroversor para português das cinco cartas, já que Filinto Elísio, em 1819, traduzira doze, pensando que eram todas da freira bejense. Por último, estabelece a comparação entre as epístolas seiscentistas da freira de Beja e as ducentistas de Heloíse e Abelard.
As ilustrações miniatura de Anna são rápidas, de traço quase contínuo e voluptuoso, expressando muito bem a resignação da religiosa; a nau que transportava Chamilly para França, mas que, obrigada por uma tempestade, regressa ao reino do Algarve; o convento, altas paredes e torres, situado no alto de uma penedia (naturalmente o reflexo da realidade das construções acasteladas e principescas das regiões centro e norte da Europa).


Publicado por Leonel Borrela in Diário do Alenetejo de 29 de Junho de 2007

[1] Estrangeiros, para os franceses, somos principalmente nós, portugueses, pois, eles, não consideram actualmente, ou só muito poucos consideram, a origem portuguesa das cartas da freira bejense. Contudo, tal polémica, não tem lugar nesta abordagem, onde a edição polaca é tão estrangeira para nós como para os franceses.
[2] Adquirida para a nossa colecção Alcoforadina, via Internet, ao alfarrabista “Nicolaus”, de Gdansk, em Fevereiro deste ano.

As "Lettres Portugaises" e Ivan Junqueira


As "Lettres Portugaises" e Ivan Junqueira


Nos dias 24 e 25 de Maio passado, esteve em Portugal, para o lançamento da sua antologia poética “O tempo além do tempo”, o ex-jornalista, poeta, tradutor, ensaísta, crítico literário e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, Ivan Junqueira (Rio de Janeiro, 1934)[1].
Ivan Junqueira é um dos principais autores brasileiros que segue ou pretende seguir de perto nos seus ensaios as posições anti-alcoforadinas defendidas por A. Gonçalves Rodrigues (1935 e 1944), Leo Spitzer (1953) e Deloffre e Rougeot (1962), entre outros. Quer dizer: não concorda com a autenticidade portuguesa das cartas e muito menos com a presumível autoria de Mariana Alcoforado. O “Fio de Dédalo”[2] é uma das suas melhores obras onde reúne a heterogeneidade do seu pensamento crítico, como poeta, ensaísta, tradutor e algo de historiador. O ensaio “A fraude das Lettres Portugaises” (pp.274-281) foi primeiramente proferido numa conferência no ciclo literário “Rodas de Leitura”, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, em 14 de Maio de 1997.
Felizmente não foi Dédalos a construir esse labirinto, não de Creta, mas literário, das “Lettres Portugaises”, no qual se tem procurado com desmesurado afã a qual das pontas – e não estarão todas à vista, nem outras facilmente acessíveis – corresponde o fio autentico. Supomos que o mesmo fio quase se esgotou ou em parte ardeu, após o desenho de tão complexa trama labiríntica, sendo hoje impensável, dada a natureza metafórica de que o revestiram, encontrar nas “Lettres” o fio de Ariadne que reconduziu Teseu à liberdade, que o mesmo é dizer: encontrar e entender, como lição e força libertadora do amor, a paixão sublime de Mariana. Há quem veja na defesa da autenticidade portuguesa das “Lettres Portugaises” a construção de um mito, um mito nacional (Anna Klobucka, 2006) . Mas um mito distorce os acontecimentos. Os adeptos da sua autenticidade portuguesa [das cartas e de Mariana, não do mito] não manipularam as fontes impressas e manuscritas, foram honestos, coerentes nos seus estudos – tudo sempre citado, até ao pormenor, para que não restassem dúvidas. Não foram os alcoforadistas (que os há em Portugal e no estrangeiro) a editar as cartas com o título de “Lettres Portugaises traduites en françois” (cartas portuguesas traduzidas em francês, que os opositores difundem, com frequência, como “escritas em”), nem mencionaram Guilleragues como seu tradutor (o pretenso autor dos anti-alcoforadistas), nem descobriram o nome de família de Mariana, Alcoforado, nem a terra onde vivia, Beja. Tudo lhes foi transmitido em francês e por franceses, em França. Se foi uma brincadeira, foi coisa séria, porque deixaram por todo o lado vestígios da traquinice que fizeram para que parecesse verdade – cremos que no século XVII ninguém tinha capacidade para criar, inventar, tais cartas, que agora querem ver como obra de cariz clássico seguindo até os cinco actos da tragédia grega.
Regressando `”A fraude das Lettres Portugaises” de Ivan Junqueira, esclarecemos que a “Advertência ao Leitor” da edição princeps, de 1669, retrata uma norma seguida pela maioria dos livreiros da época quando publicam assuntos dos quais desejam manter o anonimato dos intervenientes. Com frequência afirmam que não os conhecem e que o texto que lhes chegou às mãos, através de pessoa de confiança, relata factos verídicos. Portanto, acreditando em Claude Barbin, seu primeiro editor, “esse gentil-homem que serviu em Portugal” não é uma falsidade, mas, se fosse, não deveria ser motivo suficiente para, como afirma Junqueira (1998, 274), garantir o estrondoso sucesso editorial. O sucesso reside “apenas” mais na liberdade de expressão, exterior às normas vigentes, do que na qualidade literária das cartas, e no desassombro com que Mariana enfrenta, e explica, a indiferença a que sujeitaram a sua paixão amorosa – salienta-se o plural sujeitaram, porque não foi só Chamilly a contribuir para a sua revolta, foram também, como ela diz, a severidade dos próprios familiares e as leis implacáveis do seu próprio país.
O autor desconhece que “du Marteau”, aliás Pierre du Marteau, “sediado” em Colónia, é uma entidade forjada, da qual vários livreiros se apropriaram para divulgarem temas proibidos, denunciarem situações candentes de imoralidade e injustiça social. É na edição deste livreiro fantasma, criado, julga-se, pelos livreiros Elzevier[3], na Holanda, que, ainda em 1669, vêm a publico os nomes de Chamilly e de Cuilleraque (Guilleragues), respectivamente como destinatário e tradutor das cartas. Também desconhecemos qual a documentação que, já em 1669, refere Mariana Alcoforado como a “religiosa alentejana”autora das cartas (1998,275). Em nenhuma publicação coeva ou, até, setencentista, vem tal qualificação de naturalidade, deve ser um lapso do autor. Por outro lado, aparentemente, transforma a defesa do seu discurso num caso de vida ou de morte. Leia-se: “Mais grave ainda: Saint-Simon e Duclos, em suas Memórias, confirmam essa atribuição [à religiosa portuguesa], que Chamilly não desmentiu. E pior: em 1810, numa crítica ao “Dicionário” de Brunet, Boissonade deu a conhecer […] o nome da religiosa Mariana Alcoforado”. Pois, estes documentos são graves e do pior que pode haver para a negação da autoria francesa das cartas. Associados à carta que Boileau dedicou ao seu amigo Guilleragues, então é mesmo do pior que pode haver, pois não menciona a mais ténue ligação entre o presumível autor e as “Lettres”. Também Madame de Sévignè, amiga de Guilleragues, teria todas as razões para desmentir Barbin [ “ce chien de Barbin”, foi o carinho com que Mdme. o tratou numa das suas cartas], fazendo justiça na autoria das “Portugaises”ao seu amigo. Porém, nada.
Junqueira (1998, 276-277) também refere a “ocorrência de três ou quatro lusismos de linguagem [só? Tão poucos…], que não se podem atribuir, entretanto, à mão tosca de Mariana, mas sim à sensibilidade literária de Guilleragues, que, provavelmente, se valeu dos textos de outras cartas de portuguesas apaixonadas por oficiais franceses que as teriam levado para França como troféus […].”[4] Imagine o nosso leitor: “mão tosca de Mariana”, quando se sabe que só as religiosas com mais conhecimentos é que podiam chegar, como chegou Mariana, aos cargos de escrivã e vigária conventual.
Na ânsia de tentar provar a autenticidade francesa das “Lettres” o autor agrava ainda mais o seu incompleto conhecimento do assunto, transcrevendo mal [e não é lapso] o seu Registo oficial, descoberto por F.C. Green, em 1926. Há iniciais maiúsculas e minúsculas que não são respeitadas na cópia, na transcrição ou no que quer que tenha sido analisado e feito. O documento original, do qual possuímos fac-simile, trata as “Lettres Portugaises” com inicias minúsculas e “Les Valentins, Epigrammes et Madrigaux” com iniciais maiúsculas. Descurar este pormenor é grave; querer seduzir o leitor com uma subtileza desta natureza não é correcto. Porém, Junqueira não foi o único a copiar o documento sem consultar a fonte original, quase todos o fizeram. A origem da polémica está nesse Registo manuscrito, pedido por Claude Barbin, em 17 de Novembro de 1668, o qual atribui, preto no branco, e traduzindo para português, “Os [jogos] Valentinos cartas portuguesas Epigramas e Madrigais” a Guilleragues. Sabe-se, e o autor não menciona, que era costume registar em simultâneo traduções e criações literárias; sabe-se que obras traduzidas eram registadas como de autor; outras nem os mencionavam, embora fossem conhecidos. Enfim, que legitimidade, para a atribuição das cartas a Guilleragues, pode ter um registo desta natureza quando “Marteau”o divulga como tradutor, sem qualquer oposição. O próprio F. C. Green parecia não confiar a cem por cento na atribuição. É muito provável que as “lettres portugaises”, com minúsculas, signifiquem a tradução de Guilleragues, e as outras obras, com maiúsculas, as de sua autoria. Por essa razão, Barbin, edita em primeiro lugar, as “lettres Portugaises traduites en françois” e só depois as obras de Guilleragues de mistura com outra de outra autoria. Esta asserção poderá ser confirmada ou negada pela análise dos outros registos (estudo que realizamos neste momento).
Publicado por Leonel Borrela in Diário do Alentejo de 6 de Julho de 2007

[1] In Diário de Notícias de 23 de Maio de 2007. Secção “Artes”, p.50
[2] JUNQUEIRA, Ivan –“O Fio de Dédalo”. Rio de Janeiro:Editorial Record, 1998. [Esta obra foi-nos amavelmente oferecida pela professora universitária de Porto Alegre, Claudiany Pereira, também uma fervorosa estudiosa das “Lettres Portugaises”. Bem haja.
[3] Ver uma das edições Elzevier [identificam-se quase todas pela ilustração da esfera armilar, com os signos do zodíaco], provavelmente de Amesterdão, porém, da oficina fictícia de Pierre du Marteau, em Colónia, no ano de 1676.
[4] Onde estão estas cartas? Alguém as viu ou mencionou?
Parece que se confunde bastante, isso sim, os resultados execráveis da Guerra Peninsular (1807-1814) com o período de seiscentos. Até há gente de alto gabarito intelectual que vem ao museu de Beja, instalado no cenóbio de Mariana, e desata a falar da fuga da família real para o Brasil, da Guerra Peninsular e, claro, por causa dos franceses, das famosas cartas da freira. Ficam estarrecidos quando se lhes diz que a história é do século XVII e não do XIX.

Claude Barbin, o editor francês das Cartas Portuguesas


Claude Barbin[1], o editor das Cartas Portuguesas

Gervais Reed dá-nos a conhecer Claude Barbin (1628 - 24 Dez 1698) e os livros que editou ao longo dos seus mais de cinquenta anos de actividade. Quando adolescente aprendeu a profissão de impressor que, então, passava naturalmente pelo domínio total dos segredos oficinais da ciência tipográfica e, depois, como editor perspicaz, desde o início atento à forte rivalidade existente entre dezenas de livreiros parisienses, não descurava a utilização do aviso ao leitor (Au Lecteur) para repor a verdade dos factos. Numa das suas edições do Fantasma amoroso, de Quinault, critica os confrades pelo desplante de publicarem livros com o título de Fantasma e alerta os leitores para a obra desvirtuada que lhes tentam pespegar. Faz a advertência em nome dos interesses particulares dos leitores e não em seu proveito pessoal, obviamente.
Entre as suas primeiras edições de Fantôme amoureux, de 1656, da autoria de Philippe Quinault, e Lettres Portugaises, de 1669, de autoria anónima, Claude Barbin publicou um sem número de documentação manuscrita particular que, à priori, não se destinava a ser impressa. Contudo, procurava freneticamente essas novidades; pedia aos herdeiros de famílias letradas que lhe cedessem, comprando ou não, cartas, poemas, diários, enfim, tudo o que retratando a cultura e a personalidade dos seus autores, já falecidos, fosse passível de interessar os leitores; aos outros, contactava-os directamente, mostrando-se solícito e empenhado em publicar-lhes os seus pensamentos ou a descrição das suas viagens.
Desse modo, seguindo Gervais Reed (1974, 86-93), Claude Barbin editou, entre outras obras: em 1660, de Louis Fontaines, Relation du Pays de Jansénie; de Molière, Les Precieuses Ridicules; de diversos autores, Recueil dês Harangues qui ont été faites à la Reine de Suède; em 1661, de Molière, L`Ecole dês maris; de Pierre Chevalier, Histoire de la Guerre des Cosaques contre la Pologne; de Donneau de Vise, várias obras defendendo a peças de Corneille, além de outras de crítica literária; seis obras de Molière, L´Ecole de femmes, Le Dépit amoureux, L´Etourdi, entre outras; em 1664, de Mlle. Desjardins, Recueil de poésies, augmenté deplusieurs pièces et lettres; de Donneau de Vise, Les Diversités galantes; de Henriette de Coligny (contesse de La Suze) e de Paul Pelisson- Fontanier, Nouveua Recueil de pièces choisis contenant lettres galantes en prose et en vers; de Jean Racine, La Thébaide; de Paul Tallemant, Le seconde voyage de l´Ile d`amour; em 1665, de GASPAR Coligny, Mémoires; de Jean Corbinelli, Sentiments d`amour tires des meilleurs poètes modernes; de François, duc de La Rochefoucauld, Réflexions, ou Sentences et Maximes morales; em 1666, de Nicolas Boileau- Despréaux, Satires; de Cureau de La Chambre, L`Art de connaitres les hommes; de Antoine Furetière, Le Roman bourgeois; em 1667, reedição das Sátiras de Boileau-Despréaux[2]; de Adrien Thomas Perdou Subligny[3], La Muse dauphine [Reed explica que esta é uma outra edição da carta em verso a monsenhor Dauphine; de Tasso (tr. Michel de Clerc), La Jerusalém délivrée; em 1668, de Perret, Sapor, roi de Perse; de Racine, Andromaque; de Saint- Evremond, Oeuvres mêllées; de Torche, Le chien de Boulogne, ou L´Amant fidèle; de diversos autores, Pièces diverses, contenant Eclogues, Elégies, Stances, Madrigaux, Chansons, Epigrammes, traduction d`Horace et autres pièces; e, em 1669, persistem as Sátiras de Boileau; Le Journal amoureux de Mlle Desjardins; as Novelas galantes, cómicas e trágicas, de Donneau de Vise; as Lettres Portugaises, de Guilleragues [?]; 2ª edição das Lettres Portugaises, de Guilleragues [?]; Valentines, Questions d´Amour e autres pièces galantes, de Guilleragues [?][4]; Les amours de Psiché et de Cupidon, de La Fontaine; de Madeleine de Scudéry, La promenade de Versailles; Lettres Portugaises, 2ª parte, de um anónimo. Ao paradoxo desta última atribuição de Gervais Reed juntam-se outros. Em 1670, entre mais algumas obras de Boileau, Desjardins, Donneau de Vise, Saint-Evremonde outra edição das Lettres Portugaises de Guilleragues [?], aparecem umas Réponses aux Lettres Portugaises de autor anónimo, e, no ano seguinte, 1671, entre mais obras originais e reedições dos autores citados, como por exemplo a Bérénice de Jean Racine, surge, de um anónimo, a Relação histórica da descoberta da Ilha da Madeira que, como se sabe, e o texto di-lo, é da autoria de Francisco Alcoforado [desconhecemos se é mencionado o tradutor e, mais, se não poderia ser o mesmo das Cartas]. Já agora, completamos o percurso (REED, 1974, 97-101): em 1672, entre outras obras, sai a 3ª edição das Lettres Portugaises de Guilleragues, e, em 1673, a 2ª parte das Lettres Portugaises de um anónimo.
Em 1675, Claude Barbin edita Epitre à Monsieur de Guilleragues, uma longa Carta ao senhor de Guilleragues, de Boileau-Despréaux, na qual este autor, como amigo do presumível autor das Lettres Portugaises, não faz qualquer referência ao seu sucesso literário, embora o considere um conversador espirituoso que as damas não dispensam (uma espécie de circunspecto “animador cultural” de salão).
Apesar de considerarmos extremamente valioso o estudo de Reed, não comungamos da mesma opinião do autor quanto à atribuição controversa das Lettres Portugaises. Então, se a primeira edição é de Guilleragues; se a segunda parte é anónima; se a publicação que mistura obras de Guilleragues com as de outros autores, continua a ser de Guilleragues, em que ficamos?
Alguma coisa está mal. E, a primeira, é a de que Claude Barbin, nunca mencionou os nomes dos autores das obras referidas, afirmando sempre que a primeira edição das Cartas portuguesas, traduzidas para francês, é da autoria de uma religiosa portuguesa, de nome Mariana (que só peca por ser anónima porque não tem nome de família… o resto bate certo); depois, na tal segunda parte, Barbin também explica que são sete cartas de uma senhora não religiosa (d`une dame du monde) e que não se devem confundir com as anteriores; por fim, edita em simultâneo com esta segunda parte, As Valentinas, Questões de amor e outras peças galantes, também sem autor, e poderíamos entender que a colectânea era precisamente de um só autor, mas não é, pois Roger de Rabutin[5] (1618-1693), conde de Bussy, um antigo comandante de Chamilly (o presumível apaixonado de Mariana Alcoforado) é o autor das Questões de amor, restando provavelmente as outras, Valentinas e peças galantes, para Guilleragues. Todavia, as incongruências de Reed não ficam por aqui. O autor tinha conhecimento do Registo do Privilégio Real feito por Barbin, em 17 de Novembro de 1668, dando como de Guilleragues Les Valentines lettres portugaises Epigrames e Madrigaux. Não vemos aqui as Questões de amor de Rabutin, mas vemos as lettres portugaises, com letras minúsculas a distinguirem-se dos outros títulos e não deve ter sido por acaso que o registo foi feito assim. Julgamos que as iniciais maiúsculas definem as obras de Guilleragues e as minúsculas a sua tradução.
Ora, Gervais Reed atribui a Guilleragues as obras que lhe interessam, salvaguardando as incompletas investigações de F.C.Green (o descobridor, em 1926, do documento de Registo mencionado) e de Deloffre e Rougeot (1962). Capitula no mesmo método que os anti-alcoforadistas (os que não são pró atribuição das Cartas portuguesas a autor português e escritas em português), o método do paradoxo, da impossibilidade. Se o Registo atribui as Lettres a Guilleragues por que razão Reed só lhe atribui a primeira edição e as suas reedições e não a segunda parte que também são Lettres Portugaises? E as Respostas às Cartas, serão de quem? Não deve haver dois pesos e duas medidas. Barbin serve-se do mesmo Registo[6] para editar todas as Cartas, considera-as anónimas. Se alguém utiliza o Registo como fonte fidedigna para chegar a determinada conclusão, só tem que ser coerente. Um autor francês, Alain Viala (1985, 119;125-128), na sua obra Naissance de l`ecrivain[…], denuncia a prática seiscentista de se registarem vários títulos, como se fossem uma colectânea literária, de obras de diversos autores no nome de um só, para facilitar a impressão das obras que pudessem ser mais problemáticas, e dá como exemplo as Lettres Portugaises. Mais palavras para quê?
Ficamos com um cantinho (REED, 1974, 12) do local fantástico onde Claude Barbin tinha, em Paris, a sua livraria ( a letra A é o local preciso onde se situava a livraria de Claude Barbin, fazendo esquina, sobre uma loggia, num piso superior e exterior à Sainte-Chapelle, para a qual [loja] se subia pela segunda escadaria coberta – na face lateral da igreja e que sabemos a contorna até á entrada principal – a que se chamava de seconde Perron, letra B) e a reprodução de uma das suas edições[7]com a morada comercial do editor. A gravura da Sainte-Chapelle foi executada por André Perelle no fim do século XVII – o documento parcialmente reproduzido pertence à B.N.F. Est. Ve 15/4º, f.15.

Publicado por Leonel borrela in Diário do Alentejo, em 28 de Setembro de 2007.



[1] REED, Gervais E. – Claude Barbin – Libraire de Paris sous le régne de Louis XIV. Genève- Paris: Libraire Droz, 1974. Vol. 5, colecção “Histoire et Civilisation du Livre”, pp.131.
[2] Nem referenciamos as obras de outros autores, igualmente importantes, nem às reedições da maioria das obras, realizadas de um ano para outro. Destacamos as obras que pelo seu conteúdo amoroso, além das de crítica, reflectem o caminho percorrido por Barbin na escolha das suas edições até às Lettres Portugaises. Embora nunca deixe este tema, as suas preocupações futuras atenderão cada vez mais as obras históricas, de viagens, ciência e moral religiosa. Barbin publicou mais de 600 obras de mais de duzentos autores. É obra!
[3] Subligny é o advogado a quem também tem sido atribuída a tradução das Cartas Portuguesas para o idioma francês. Era bastante crítico em relação à sociedade do seu tempo; ainda criticou o Andromaco de Racine, depois ficaram amigos.
[4] O destaque bold das palavras é nosso.
[5] Roger de Rabutin era primo de Mme de Sévigné, a autora das Cartas a sua filha e a outras personalidades da época, publicadas postumamente, nas quais faz referência às Portugaises, as cartas apaixonadas da religiosa. Esta Senhora, mais uma amiga de Guilleragues, bem lhe podia ter feito justiça dizendo que as famosas cartas eram dele. Porém, nada.
[6] Temos consciência de que já abordámos em parte esta questão no Diário do Alentejo. É só mais esta vez...
[7] SANTOS, José – “Descrição bibliográfica das edições das Cartas de Amor de Soror Mariana Alcoforado…”. Separata da Bibliografia Clássica Luso-Brasílica. Lisboa: Lusitana, 1918. p.9

LETTRES PORTUGAISES MARIANA ALCOFORADO I


Das Lettres portugaises e Mariana Alcoforado[1]

Cremos que é imprescindível a leitura atenta de muitos livros para que possamos conhecer, apenas e razoavelmente bem, um único. A este porfiámo-lo durante anos a fio até que nos viesse parar à mão. É raro, mas não é único, nem haveria necessidade de sê-lo, apesar de ter sido responsável, a partir do século XVII, pelo desencadear de uma invulgar avalanche de edições: referimo-nos à edição princeps das Lettres Portugaises traduites en françois, de 184 pp., in 12º, impressa em Paris, por Claude Barbin, no ano de 1669. Este livrinho integra a colecção bibliográfica particular[2] que inventariámos para a realização de um estudo académico sobre a História do Livro e da Leitura através das “Lettres portugaises”.
A colecção, porém, não é totalmente bibliográfica, nem totalmente alcoforadina, pois compreende um complemento diversificado, que muito a enriquece, noutras áreas artísticas e iconográficas: fotografia, desenho e gravura, pintura e escultura, medalhística e esfragística, cerâmica, postal, cartaz e publicidade, cinema, áudio e documentário. Todavia, para este estudo, inventariámos cerca de 440 exemplares bibliográficos[3], entre periódicos e não periódicos, e procedemos ao tratamento estatístico das variáveis mais importantes que nos permitem analisar com maior rigor a colecção nos seus aspectos quantitativo e qualitativo.
Embora o tema da pequena biblioteca seja cativante e mereça que dele se faça uma breve contextualização histórica, serve também de veículo para conhecer uma parte da evolução e dos atributos da imprensa entre as sociedades do Antigo Regime e a Contemporânea. Logo, esse livrinho único, a edição princeps das Lettres Portugaises[4], integrado no seu conjunto seiscentista, que lhe haveria de acarrear maior fama, configura algumas mudanças interessantes na arte da impressão, da composição e na exploração comercial do seu conteúdo.
De todas as edições das Cartas Portuguesas, diacronicamente, poderíamos inferir do seu sucesso económico, dada a quantidade de reedições e versões em prosa, verso, drama e arte, aliada às críticas literária e social, com incursão activa na cultura e na política. Assim, as presumíveis Cartas de Amor da freira portuguesa foram também portadoras da mensagem irreverente de libertação das Três Marias[5], relativamente ao papel da mulher portuguesa, e não só, no regime de Salazar e Caetano. Antes delas, já o general Humberto Delgado[6], em 1964, tinha publicado no seu exílio brasileiro um importante ensaio, constantemente ignorado pelos estudiosos, sobre Mariana Alcoforado e a condição sofrível em que vivia a mulher em Portugal.
Apreciamos, evidentemente, a edição princeps das Cartas Portuguesas como raridade bibliográfica que tanto apraz aos bibliófilos, mas vemo-la, fundamentalmente, como fonte histórica, testemunho que as cartas originais, desaparecidas, não podem dar; admiramos na gravura concebida por Eisen e aberta a buril por Massard (1770) a tentativa de substituir a beleza das palavras; apercebemo-nos da permanente evolução dos elementos que estruturam o livro e, também, do apego deste à tradição, pela frequente utilização de capitulares, as grandes letras, quase sempre ornamentadas e encaixilhadas que no início do prefácio e do capítulo certificam bem o gosto e o hábito do passado manuscrito e iluminado dos códices.
Abrimo-nos ao espaço visível do livro, de memórias sem tempo – normalmente, os livros, têm vida, são um local de debate, galeria de arte e museu, uma boca de cena onde pulula o teatro da vida, onde pulsam os bastidores; são um diário devassado, recôndito, alvo de curiosíssimos olhares nada discretos; são um valioso testemunho da história; são, afinal, as polémicas Lettres Portugaises traduites en françois (sic), editadas pelo livreiro parisiense Claude Barbin (c.1628-1698), no dia 4 de Janeiro de 1669, um bom pretexto para falarmos da autenticidade do Livro no tempo, no espaço e na memória.
Não vamos afirmar que leitura e vida corriam paralelas, como no caso setecentista do comerciante Jean Ranson que estruturou a sua, após tomar como modelo a seguir as leituras de Rousseau[7], mas acreditamos que as Cartas Portuguesas, pelo elevado numero de edições, provam o quanto eram e são procuradas pelos leitores, provavelmente como uma necessidade vital de contrariar uma existência que ninguém deseja para si: a clausura e o desamor.
Publicado por Leonel Borrela In Diário do Alentejo de 31 de Agosto de 2007

[1] Este é o título do livrinho que temos em mãos para publicar, sob a chancela da editora 100Luz, no final deste mês de Setembro [saiu a publico em 29 de Setembro de 2007]. Grande parte deste texto introdutório resulta do trabalho académico de Seminário para a conclusão, em 2005, da licenciatura em História ramo do Património Cultural, da Universidade de Évora, sob a orientação do Professor Doutor Francisco António Lourenço Vaz.
[2] Trata-se da nossa colecção bibliográfica sobre as Lettres Portugaises e Mariana Alcoforado, religiosa que nasceu, viveu e morreu em Beja, considerada a sua presumível autora. Denominámo-la (à colecção) de Colecção Bibliográfica Alcoforadina ou, somente, Colecção Alcoforadina, mas o nome de Biblioteca Alcoforadina também teria razão de ser, dada a especialização do tema, embora pareça mais pretensioso.

[3] Desde o dia 5 de Abril de 2005 para cá já foram inventariados mais 45 exemplares… [já vão em 500].
[4] Cartas Portuguesas ou somente Cartas será a denominação que utilizaremos com maior frequência doravante.

[5] BARRENO, M.I.; HORTA, M.T.; COSTA, M.V. – Novas cartas portuguesas. Lisboa: Futura, 1974. 2ª Ed.

[6] DELGADO, Humberto – O infeliz amor de soror Mariana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. No ano seguinte, numa das suas visitas clandestinas a Portugal e a pretexto de um encontro forjado na raia, próximo de Badajoz, com elementos da oposição ao regime, Delgado é assassinado pela PIDE, juntamente com a sua secretária Arajaryr Campos. No monumento construído em sua memória no local para onde atiraram os dois corpos, no Camiño de los Malos Pasos, próximo de Vila Nueva del Fresno, não existe sequer uma pequena placa que homenageie a mulher que o acompanhava, cuja emancipação ele tanto defendia, razão porque vemos nalguns livros, como o da infeliz Mariana, monumentos mais úteis à sociedade, embora menos visíveis do que alguns monumentos [Arajaryr Campos foi, por fim, homenageada devidamente, em 2006].
[7] DARNTON, Roberto – “Historia de la Lectura”. In Formas de Hacer Historia. Madrid: Alianza Editorial, 1993. p.179

Lettres d`amour d`une religieuse portugaises ecrites au chevalier de C.oficier français en Portugal

Lettres d`amour d`une religieuse portugaises ecrites au chevalier de C.oficier français en Portugal
Pormenor da gravura de J Padebrugge 1696

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Calandrónio é um nome que vem epigrafado numa lápide funerária visigótica exposta no Núcleo Visigótico do Museu Regional de Beja. Num texto comovente Calandrónio chora a perda da sua sobrinha Maura, de olhos muito belos e formosa de feições, que mal fizera quinze anos. Por ser um documento pacense extraordinário,do século VII, repleto de sensibilidade, adoptei-lhe a memória. Leonel Borrela